Chodpa - O incrível e o místico

Chodpa - O incrível e o místico, o yogi e o rebelde, tem sido esta a tradição yogica, que cresceu nas margens da norma socio-religiosa, e que tem estimulado a imaginação de quem vislumbrou os ritmos e manifestação desta tradição ancestral.
Yogis nomadicos, em constante romaria, acampados em cemitérios e sítios remotos, desafiando as normas sociais e religiosas ortodoxas. O sistema de Chod tem as suas raízes na antiga tradição de santos errantes, os Mahasiddhas, da India antiga, e nos ensinamentos Budistas da 'perfeição de sabedoria'. Emanando um aroma profundamente xamânico e tantrico, as praticas de Chod que temos hoje tomaram forma no século XI, através da grande Yogini Tibetana Machik Labdron. Traduzido literalmente a palavra Chod significa 'cortando através de', refere-se a cortar através da ilusão e da mente dualista e egoica, para desvendar a natureza perfeita, clara e nítida da base da realidade.
Numa dança profunda de musica, canto, sabedoria e contemplação, e de métodos incríveis de auto-transformação, o ritual de Chod leva o praticante por uma viagem interior, pelas profundezas dos seus próprios medos, emoções negativas, esperanças e desejos, dissolvendo-os ali mesmo onde estão, no espaço inconcebível da mente não-criada.


 A pratica de Chod é um acto de generosidade supremo, onde se oferece o próprio 'eu', a mente-pessoal e corpo, como uma oferta de sabedoria infinita. Em particular, as formas de Chod ligadas a Atiyoga, como por exemplo 'O Riso das Dakinis', permitem ao praticante manifestar a visão clara da cognição-pura-primordial, livre de medo e esperança, o que é em si o objectivo final.
Tradicionalmente o praticante de Chod, chamado de Chodpa, andava de sitio em sitio, sozinho ou em pequenos grupos, executando esta pratica libertadora em qualquer lugar que achava apropriado, desde o centro de uma localidade, florestas, ravinas, e em especial em cemitérios e lugares de cremação; oferecendo o seu próprio 'eu', a mente-pessoal, a todas as forças negativas, que na realidade são os nossos próprios medos, esperanças, apego pessoal e emoções negativas.
Na realidade, é no cemitério da nossa própria mente conceptual que todas estas forças negativas habitam, sempre prontas a atacar o individuo, arrastando a pessoa  entre medo e esperança, num ciclo continuo.









"Cortar a raiz da mente conceptual
Cortando através de todas as aflições mentais
Cortando através de todas as ideias e formações mentais
assim como através de ansiedade, esperança e medo
e cortando a arrogância que se apega ao 'Eu'
é este cortar através que é o significado de Chod "
do Grande Poema da Perfeição de Sabedoria, por Aryadeva, tradução de Jerome Edou




Todas estas tendências neuróticas, julgamentos e pensamento incessante que nascem e se alimentam deste ciclo de medo e esperança - é o que impede a mente de reconhecer a sua verdadeira natureza. Sentados no cemitério da nossa mente conceptual, cortando todos os julgamentos, medos e esperanças, e apego-pessoal, até que somente a sabedoria da mente primordial e luminosa permanece, esta é a essência de Atiyoga Chod.
O Chodpa cultiva uma liberdade interior sem limites, um destemor sem limites, tentanto ir totalmente para além da mente conceptual onde não existem limites nem fronteiras. Nada para querer e nada para temer, nada para pensar sobre, num espaço sempre-livre onde toda a diversidade se manifesta simplesmente assim como é, revelando um mundo de mistério e maravilha - Esta é a dança interna e externa do Chod.  



Ajanatha Das, 2018