Budismo em tempos de Modernidade e ciência


Budismo em tempos de modernidade e ciência


O mundo hoje atravessa uma época de características muito únicas. Vivemos num período da historia que é marcado por um desenvolvimento tecnológico sem precedente na história da humanidade.   O desenvolvimento de tecnologia é directamente relacionado com o desenvolvimento cientifico e da abordagem cientifica de olhar para a realidade. Esta forma de olhar para a realidade não é algo que se limita a aplicações praticas, mas que tem vindo a assumir uma posição de dogma na forma como nós nos relacionamos com a experiencia de estar vivo, e na forma como apercebemos a nossa realidade; ou por outras palavras, é uma paradigma que define a forma como se considera a realidade e os seres vivos. Neste contexto torna-se relevante explorar a questão de como uma tradição ancestral como Budismo se enquadra neste mundo moderno; é relevante e como? Neste artigo vamos explorar esta questão.

 
'Budismo vs cientismo'  - São amigos, inimigos, ou será esta questão irrelevante?

Como praticante, estudante e professor de Budismo, pessoalmente eu diria que esta questão, colocada desta forma, é totalmente irrelevante. No entanto uma exploração do porquê, que leva a varias considerações sobre este tópico é crucial. Esta questão na realidade é bem mais vasta, e poderia ser expandida para 'espiritualidade e religião  vs cientismo', no entanto o foco neste artigo é em relação ao Budismo em particular. Na realidade, Budismo e cientismo não são nem inimigos, nem são amigos. Colocar a questão nestes termos é uma redução demasiado simplista de um problem bem mais complexo e vasto. Na realidade ciência e Budismo ocupam espaços diferentes no contexto da condição e da experiencia humana. Tentar colocar estes dois interlocutores num debate é algo que não é muito util, como vai ser explicado durante este artigo; no entanto é algo que está muito presente hoje em dia - o colocar destas duas 'escolas' num debate comparativo. No entanto tal comparação é semelhante a colocar uma escola de culinária em debate com uma escola de agricultura. Estas duas disciplinas têm funções e papeis diferentes. Existem pontos de encontro entre elas, mas fundamentalmente são dimensões diferentes com objectivos diferentes. No entanto hoje em dia devido á forma como o sistema de escolaridade funciona as pessoas são educadas a assumir a posição de cientismo como sendo a forma absoluta, e ultima, de entender a natureza da realidade; devido a isso é muito importante explorar esta questão. A consequência de não explorar de forma adequada esta questão leva a uma situação onde aqueles que têm uma inclinação para o materialismo e cientismo vão dispensar de forma radical todas estas tradições ancestrais como mera superstição, ou á atitude condescendente de dizer 'essas coisas são simplesmente para fazer pessoas ignorantes sentir mais paz em relação ao desconhecido'. Por outro lado, estudantes de Budismo, e pessoas interessadas em espiritualidade correm o risco de desenvolver confusão e conflito interior porque acabam sempre numa posição onde estão a medir os ensinamentos da sua tradição em relação ao cientismo como se fosse uma referencia absoluta. Por outro lado, o 'cientismo popular', que é basicamente o que é ensinado nas escolas e a percepção da visão cientifica que é 'popular', é uma visão materialista e dualista da realidade que está em contradição directa com os princípios mais básicos do Budismo. Como resolver esta tensão?


Neste ponto é importante estabelecer o seguinte: este artigo não é um ataque ás disciplinas cientificas, e não é uma tentativa de estimular um movimento anti-ciência ou anti-tecnologia. Não existe duvida que lampadas produzem luz e são de grande utilidade e beneficio. Assim como é de grande beneficio o desenvolvimento de antibióticos por exemplo. A disciplina cientifica tem muitas aplicações praticas de beneficio, e certamente muitas outras que são problemáticas e perigosas - é aqui que podemos estabelecer que ciência é uma ferramenta, e como tal, a sua utilização depende da motivação, desejos e atitude das pessoas envolvidas - no final, quer aqueles que desenvolvem certas tecnologias, quer do publico em geral na forma como são usadas, ou até se certas tecnologias são aceites ou se devem ser postas de lado completamente como inerentemente nocivas para o bem estar humano no seu mais vasto contexto.


Interpretações da realidade

Como forma de iniciar esta exploração é importante notar que no que diz respeito aos fenómenos da realidade aparente, Budismo e ciência têm objectivos totalmente diferentes na sua motivação e forma de os interpretar. No entanto, ambos têm o mesmo ponto de partida, que é: aparentemente, experiencialmente, existe um universo ao meu redor, e eu estou a viver nesse universo juntamente com outros seres vivos - como entender e compreender esse universo e esses seres? Este ponto de partida é igual em ambos os casos. É a partir daqui que a divergência acontece. A ciência tem como objectivo principal o mapeamento dos fenômenos da realidade e o desenvolvimento de modelos exactos, e matemáticos, previsíveis que explicam esses fenómenos e seres, ie, como funciona. O Budismo, por outro lado, não tem essa intenção ou motivação. A  motivação no Budismo está centrada nas questões de felicidade e sofrimento, nas questões de significado e natureza do Ser e realiadade, e como isso se relaciona com a experiencia pessoal e subjectiva da realidade, até ao ponto  de atingir uma experiencia concreta e cognitiva do que a natureza do ser é na sua forma mais total a completa.


Como forma de sintetizar, poderíamos dizer que um Budista procura atingir uma experiencia concreta e directa do que é esta realidade na sua totalidade, e encontrar uma experiencia interior de sabedoria e paz que vem da descoberta da condição fundamental deste 'ser'; por outro lado o cientista procurar criar um modelo conceptual e matemático da realidade aparente, e definir formas de explicar o modo de funcionamento dessa realidade de forma concreta e exacta através de modelos conceptuais, para depois poder manipular o mundo material. 

É este o primeiro ponto onde se poderia dizer que debates entre ciência e Budismo são irrelevantes, porque fundamentalmente ambos tem objectivos e abordagens diferentes, e estão em busca de algo diferente.


Ciência e a visão da realidade


Como mencionado acima, ciência tem como objectivo criar modelos matemáticos da realidade, seja qual for a area de estudo, ou no caso de disciplinas mais empíricas,  definir modelos conceptuais que explicam esse campo de estudo. De um ponto de vista Budista esse objectivo é irrelevante porque não resolve as questões fundamentais que são centrais para o Budista, que são: a natureza da felicidade e sofrimento, e a questão de atingir uma realização pessoal e directa da natureza do ser e da realidade, e fundamentalmente  uma questão de explorar de forma directa e pessoal o sentido e natureza da existência. 

Esta diferença pode ser exemplificada de forma muito simples: Mesmo que um cientista brilhante chegue ao ponto de definir um modelo universal, matemático, para explicar toda a realidade, o tal 'modelo universal de tudo', talvez um grupo pequeno e limitado de pessoas no mundo consigam compreender tal modelo, que seria algo incrivelmente complexo - no entanto para a vasta maioria das pessoas, e mesmo para os cientistas que estabeleceram esse modelo, não ajudaria de forma concreta e pratica a resolver os problemas pragmáticos da vida como:   sofrimento, medo, ansiedade e a questão da razão e significado da vida e existência, morte e da razão de ser de todos nós. As questões fundamentais do Ser permaneceriam inatingíveis porque são questões que se encontram na esfera interior e subjectiva do ser, e um modelo conceptual matemático dos fenômenos do universo não consegue entrar nessa esfera experiencial interior.


Certamente não resolveria as questões fundamentais de ninguém sobre a vida e a morte. De fato, como iniciamos este artigo com a afirmação de que vivemos actualmente em um período da história marcado pelo maior modelo tecnológico de vida que a humanidade já conheceu, ao mesmo tempo em que cresce cada vez mais o aumento de doenças e transtornos de origem psicológica. uma taxa alarmante, como depressão, distúrbios relacionados ao stress e ansiedade, taxas de suicídio, corrupção, violência e assim por diante - e é aqui que podemos ver o valor de uma tradição espiritual como o budismo.

No entanto, para ser justo, vamos levar essa exploração a algumas das pesquisas científicas mais avançadas que estão sendo feitas hoje. Por exemplo, o muito conhecido neurocientista Donald Hoffman, em colaboração com Chetan Prakash, ambos investigadores da Universidade da Califórnia, produziram trabalhos do mais alto nível no campo da cognição e da neurociência que são muito relevantes para esta exploração. Em seu trabalho de pesquisa publicado intitulado “Objects of Consciousness” publicado em 2014, está escrito: “Os modelos atuais de percepção visual normalmente assumem que a visão humana estima propriedades verdadeiras de objetos físicos, propriedades que existem mesmo que não sejam percebidas. No entanto, estudos recentes de evolução perceptual, usando jogos evolutivos e algoritmos genéticos, revelam que a seleção natural muitas vezes leva as percepções verdadeiras à extinção (…) Certas interpretações da teoria quântica negam que as propriedades dinâmicas de objetos físicos tenham valores definidos quando não observados. Em algumas dessas interpretações, o observador é fundamental e as funções de onda são compêndios de probabilidades subjetivas, não elementos pré-existentes da realidade física”.

Em termos simples, o complexo estudo de Hoffman concluiu que a evolução nunca levaria a uma percepção mais precisa de um mundo físico, mas na verdade o oposto, que o que apercebemos com os sentidos não tem nenhuma conexão com a realidade física. Como escreve Hoffman: “No entanto, quando realmente estudamos a evolução da percepção usando simulações de jogos evolutivos e algoritmos genéticos, descobrimos que a seleção natural, em geral, não favorece percepções que são relatórios verdadeiros de propriedades objetivas do ambiente”.


Na sua teoria, Hoffman propõe a noção de ‘agentes conscientes’, dizendo que “Se nosso raciocínio foi sólido, então o espaço-tempo e os objetos tridimensionais não têm poderes causais e não existem sem serem apercebidos. Portanto, precisamos de um fundamento fundamentalmente novo a partir do qual se possa construir uma teoria dos objetos. Aqui exploramos a possibilidade de que a consciência seja esse novo fundamento (...) Queremos uma teoria da consciência enquanto consciência, ou seja, da consciência em seus próprios termos, não como algo derivado ou emergente de um mundo físico anterior.” .


O ponto interessante aqui é, como ele coloca, “a consciência em seus próprios termos”, em oposição à teoria mais prevalente de que a consciência é um subproduto da atividade neuronal no cérebro. Isso levou Hoffman a definir como esse agente consciente opera e interage com o mundo e, mais fundamentalmente, o que é esse mundo e qual é a relação entre ambos. Aqui ele faz a seguinte declaração: “Isso levanta a questão: o que é o mundo? Se considerarmos que é o mundo do espaço-tempo da física, então o formalismo dos agentes conscientes é dualista (…) nós precisamos de uma teoria não-dualista". Hoffman então passa a explorar como isso exigiria uma teoria em que a consciência é o elemento fundamental central em todos os níveis.

A teoria dos agentes conscientes de Hoffman envolve vários pontos, como “as coisas não são como as apercebemos” e “tudo é apenas uma aparência simbólica dentro do agente consciente”. Em uma entrevista esclarecendo seu estudo, Hoffman afirma diretamente que, com base em todas as simulações matemáticas e teoremas que eles conseguiram provar, que: “se nossos sentidos evoluíram e foram moldados pela seleção natural, então a probabilidade de vermos o mundo como ele é, é zero, e a própria linguagem do espaço, tempo e objetos físicos é a linguagem errada”.

A ciência e a matemática que sustentam este estudo são as mais actualizadas, e extremamente complexas, e não são o objetivo deste artigo. No entanto, para aqueles bem familiarizados com o Budismo e que desejam ler e ouvir a teoria de Hoffman, há um núcleo que soará muito familiar. Este núcleo é encontrado nas escolas budistas Cittamatra. Embora existam diferenças importantes na linguagem e em certos elementos-chave. Por exemplo, Hoffman tenta definir um modelo de monismo com uma consciência verdadeiramente real em um campo unificado de consciência existente. É claro que devemos observar que os mestres do Cittamatra não tentaram criar um modelo matemático para seus pontos de vista, porque mais uma vez, do ponto de vista do budismo, isso é irrelevante, estamos preocupados principalmente com a experiência direta. No entanto, em essência, estamos dentro de um quadro muito semelhante de idéias sobre a realidade.

No entanto, por mais interessante e brilhante que este estudo e teoria da neurociência possam ser, é também aqui que a ciência e o Budismo divergem significativamente. No trabalho de pesquisa e no livro de Hoffman, fica claro que ele está tentando definir um modelo matemático concreto para esse agente consciente e esse 'mundo da consciência', e em uma entrevista ele diz: “essa teoria implica que, quando vejo um objeto como uma maçã, é muito parecido com uma estrutura de dados na minha interface (…) os objetos não existem como coisas pré-existentes (…) e quando você olha dentro do seu crânio e vê um cérebro que também é apenas uma estrutura de dados que você estão criando, os neurônios são apenas estruturas de dados e eles não existem, então os neurônios não poderiam ser a fonte de nossa experiência consciente, na verdade o próprio espaço-tempo é apenas outra estrutura de dados”. Ele vai além ao ponto de explicar que a matemática, a física, a física quântica, tudo isso, são simplesmente estruturas de dados na consciência e, como tal, não uma realidade concreta. Este tipo de linguagem e ideia deve ser bem familiar para um Budista, pois são ideias, que de alguma forma, permeiam a filosofia Budista. No entanto, dito isso, e ao mesmo tempo, ele está tentando definir um modelo matemático de consciência. Tal modelo, pelo mesmo argumento que ele propôs, seria apenas mais uma estrutura de dados na consciência que não pode dar conta da realidade real. E este é o primeiro problema desta questão de Budismo vs Ciência - Experiência subjetiva direta vs tomar conceitos objetivos como reais.

A segunda questão, ainda mais importante do meu ponto de vista, pode ser exemplificada na mesma entrevista: Quando perguntado se ele acreditava que o ser humano poderia percepcionar a realidade como ela é, ele responde claramente que do seu ponto de vista e sua teoria, não, os seres humanos nunca podem percepcionar a realidade como ela é. Ainda mais interessante é o fato de que, quando perguntado se seus estudos e teoria afetaram sua própria percepção da realidade, sua experiência pessoal e vida, sua resposta mostra claramente que não, que moldaram sua a visão intelectual do mundo, mas não a sua experiência direta e pessoal - e isso reflete exatamente os pontos cruciais que foram ilustrados neste artigo até agora.

Então, esses dois pontos: Em primeiro lugar, mesmo aceitando o fato de que ideias e percepções são conjuntos de dados na consciência ou na mente que não representam necessariamente uma realidade objetiva, a ciência investe na criação de um modelo matemático para elas. Como budistas, isso seria irrelevante para nosso objetivo. Em segundo lugar, embora a teoria, o modelo e o trabalho matemático de Hoffman sejam brilhantes do ponto de vista científico, eles não resolvem a questão da percepção direta da natureza da realidade e, como resultado, não resolvem as questões inerentes à felicidade, sofrimento, ignorância e autoconhecimento. Se entendermos esses dois pontos, entenderemos claramente como o budismo e a ciência têm dois objetivos muito diferentes, e é por isso que comecei dizendo que eles não são amigos nem inimigos.


Assumindo um ponto de vista diferente


Do ponto de vista budista, o objetivo da ciência de explicar com precisão, matematicamente, com teorias conceituais bem fundamentadas, como o universo funciona não é um problema, e não há nada inerentemente errado em fazer isso, até certo ponto. Do ponto de vista budista, entendemos que, de uma de um ponto de vista convencional da realidade, existem regras universais, que estão simplesmente relacionadas à origem interdependente e ao princípio da causalidade. Para o propósito deste artigo, talvez seja suficiente, e mais simples, permanecer dentro das visões apresentadas no Abhidharma, sem entrar nas visões budistas mais desenvolvidas e sofisticadas de Madhyamaka ou Dzogchen. Por exemplo, no Sarvastivada Abhidharma, o karma coletivo é chamado de 'fruto do domínio', o que significa, em resumo, que a experiência coletiva do universo que todos os seres compartilham, como as montanhas, planetas, as leis da física, como a gravidade e assim por diante, são chamados de 'fruto do domínio'. Dentro dos ensinamentos do Abhidharma considera-se que o universo surge do vazio, se expande, permanece e desaparece novamente, e isso acontece em ciclos. Em termos muito simples, este universo, juntamente com todas as suas leis físicas, surge do vazio como resultado de causas anteriores, ou fatores causais na consciência de todos os seres. A forma como este universo se manifesta do ponto de vista convencional, incluindo as 'leis gerais' que se aplicam a todos, como a gravidade e assim por diante, são o 'fruto geral' do karma coletivo (causa e efeito) de todos os seres que irão experienciar nascimento no universo emergente; de certa forma é um subproduto, como explica Dhammajoti: “Este é o tipo mais genérico de fruto[resultado], correlacionado com o tipo mais genérico de causa, a causa eficiente. Inclui todo o universo como fruto dos karmas coletivos da totalidade dos seres”

Então, deste ponto de vista, como Budistas, não há nenhum problema com os fenômenos que aparecem neste nível convencional, e certamente alguém pode dedicar muito tempo tentando criar um modelo matemático do 'fruto do domínio', de tudo esses fenômenos coletivos manifestados. No entanto, do ponto de vista Budista, tal esforço não nos ajuda em nosso objetivo, que é a percepção direta da verdadeira natureza da realidade e o fim do sofrimento, porque fundamentalmente a realidade aparente convencional é uma experiência ilusória, como um sonho, que não corresponde a alguma existência objetiva última – como até mesmo Hoffman, e muitos outros cientistas hoje, já concluíram.


Reconciliando ciência e Budismo

Deverá agora ser mais óbvio para um estudante e praticante do budismo como reconciliar essas duas dimensões. Em primeiro lugar, devemos entender que a 'ciência popular', ou 'ciência do ensino médio', está muito longe das ideias mais vanguardistas que se estudam hoje, e é baseada no ideal de fisicalidade e realismo, é materialista e dualista, porque esta apenas trabalhando dentro de um escopo muito limitado dos fenômenos convencionais que aparecem. No entanto, isso não invalida sua função, e podemos utilizá-lo para construir carros, aviões e etc. Mas não importa o quanto apreciemos seus usos, esta disciplina não pode entender ou resolver a questão da consciência, como até mesmo a mais avançada pesquisa em neurociência acaba de exemplificar. 

Talvez seja util introduzir aqui uma anotação sobre este ultimo ponto. Sir Roger Penrose, um dos cientistas mais eminentes dos nossos tempos explica, em relação a este ponto, começa com a premissa de que a consciência não é computacional e está além de qualquer coisa que a neurociência, a biologia ou a física possam explicar. Ele refere-se aqui a o teorema matemática, o teorema de Godel. Este é um assunto complexo, mas essencialmente Penrose, baseado no teorema de Godel demonstra que a mente humana não é um processo 'computacional' e não pode ser mapeado como tal. Existe um numero crescente de cientistas que recusam a ideia que consciência é o mero produto mecanista de actividade cerebral. 


Se entendermos isso claramente, a harmonia entre esses dois campos torna-se muito óbvia; e a afirmação inicial deste artigo de que para um praticante do budismo esta questão de 'ciência versus budismo' é irrelevante também deve ser clara - porque eles têm objetivos e pontos de vista diferentes. No entanto, a visão budista é mais vasta. A visão científica de uma realidade aparente convencional que pode ser modelada matematicamente é totalmente razoável, e util, até certo ponto, porque dentro da esfera do convencional tal entendimento é funcional. Portanto, embora a ciência possa estudar a aparente realidade convencional em alto grau matemático, é importante entender que ela tem uma visão muito limitada da realidade, que é naturalmente limitada pela capacidade da mente conceptual de trabalhar com estruturas de dados e conceitos, como Hoffman ele mesmo admite.

O cientificismo, que é basicamente a visão de que a abordagem científica é a maneira última e definitiva de entender a realidade, independentemente de refutá-la como válida ou não, é irrelevante além das aplicações práticas do dia a dia, como construir carros e assim por diante; porque os modelos matemáticos não podem mudar nossa experiência interior, nos libertar do sofrimento, nem nos permitir perceber diretamente a natureza da realidade.


O Budismo e o Dzogchen em particular não são apenas altamente relevantes no mundo de hoje, mas são fundamentais para equilibrar uma sociedade que está ficando cada vez mais ansiosa, perdendo seu senso de propósito e sentido de vida, e fundamentalmente ainda lutando com o problema do sofrimento e felicidade, ganância e dor, violência e confusão. Ciência e Budismo não são inimigos, nem têm de estar em conflito, mas também não se encontram no mesmo ponto – isto é fundamental entender – eles têm objetivos diferentes e se manifestam em níveis muito diferentes da experiência interior do ser humano. A visão budista pode entender o modelo científico e as suas ideias, mas a ciência não pode abranger a visão budista. Se isso estiver claro, um cientista pode ser um grande praticante budista, e um praticante budista não se torna confuso ou materialista-extremista. Dessa forma, a ciência precisa responder a preocupações éticas e sabedoria superiores e fornecer valor significativo à experiência humana; e o 'negócio' da felicidade e libertação humana é deixado onde pertence, para as pessoas que dedicam suas vidas à exploração da experiência pessoal e direta da mente e da consciência - os praticantes espirituais, contemplativos e meditadores.


com amor,
que seja de beneficio

by, Ajanatha