Clarificando o Significado de Karuna e Compaixão

 


Karuna e Compaixão

Clarificando o Significado no Contexto Budista


"[Karuna é] a intenção e a capacidade de aliviar e transformar o sofrimento e aliviar os problemas. Karuna é normalmente traduzido como 'compaixão', mas isso não é exatamente correto.", Thich Nhat Hanh

Um dos temas e ensinamentos centrais do Budismo é o de Karuna e Mahakaruna. De facto, é tão importante que nem sequer podemos falar de um caminho budista, ou de uma perspetiva do caminho espiritual, sem compreender e aplicar este princípio. No entanto, à medida que o Dharma entra na cultura ocidental e é traduzido para as línguas ocidentais, encontramos inevitavelmente alguns desafios. Karuna é um dos maiores desafios.

A tradução mais comum em inglês é a palavra compassion, e derivado da tradução inglesa em português temos a palavra compaixão. Mas não é a única, encontramos também traduções como: simpatia, empatia e piedade. 
Traduzir Karuna de uma forma correcta é tão importante como a importância do princípio em si mesmo, porque sem uma compreensão correcta do seu significado, a nossa visão e o nosso caminho desviar-se-ão para direcções que não estão de acordo com o significado do ensinamentos do Buda. 
Karuna é uma palavra comum a ambas as línguas sânscrito e pali, e aparece frequentemente nos sutras e comentários budistas. Nos Sutras, o Buda afirma a importância de cultivar Karuna dentro da mente como necessário para a realização no caminho. Este artigo explora o significado de Karuna com base em várias fontes antigas e modernas, uma vez que é de importância crucial desvendar o significado autêntico de Karuna, e porque é que "compaixão" pode tornar-se uma tradução muito problemática que, se é usada requer interpretação.

Se olharmos para as muitas utilizações da palavra Karuna na literatura indiana, o problema torna-se muito mais evidente e, se investigarmos alguns comentários budistas antigos, onde a palavra é explicada, talvez tenhamos uma indicação de que a palavra "compaixão" é de facto muito problemática quando a comparamos com a compreensão comum em português.

Apenas como exemplo para ilustrar a questão, nas fontes de raiz, encontramos usos da palavra karuna que parecem apontar para: tristeza, um estado de estupefação, uma expressão facial que parece triste ou com lágrimas, benevolente, o estado que surge da perda de algo que é amado, simpatia, empatia, piedade, misericórdia, afeto gentil, o desejo de remover o sofrimento, comovente, afectando, triste, pesar e outros.
Na linguagem geral, o significado comum de compaixão estaria mais próximo de piedade, "lamento", ou "lamentar"; e embora o significado budista seja bastante diferente, este entendimento parece ter influenciado muito a escolha comum da tradução como compaixão.

karuṇaṃ, rāhula, bhāvanaṃ bhāvehi. karuṇañhi te, rāhula, bhāvanaṃ bhāvayato yā vihesā sā pahīyissati.

"Desenvolvam a meditação de karuna. Porque quando estiveres a desenvolver a meditação de karuna, a crueldade será abandonada". Maha-Rahulovada Sutta (MN 62)

Com tamanha importância, tanto ao nível da visão, como da meditação e da prática, certamente que a forma como este termo deve ser entendido não deve ser tomada de ânimo leve. 

No cânone budista, Karuna é uma das quatro "moradas divinas", ou brahmaviharas, por vezes traduzidas como "qualidades ilimitadas", e geralmente traduzidas como compaixão, amor, alegria e equanimidade.

Buddhaghosa, no seu comentário ao visuddhimagga, escreve:
1) Quando há sofrimento nos outros, faz mover o coração das pessoas boas, por isso é karuna.
2) Combate o sofrimento dos outros, ataca-o e destrói-o, portanto é karuna.
3) ou dispersa-se sobre o sofrimento, espalha-se e permeia, portanto é karuna.

Nessa explicação de Buddhaghosa, podemos dizer que o primeiro ponto reflete o significado de karuna a ser cultivado. O segundo ponto reflecte o significado de karuna tal como se manifesta para os praticantes avançados no caminho, e o significado final referir-se-ia a mahakaruna, a atividade dos Budas. E nestes três aspectos encontramos a nossa primeira compreensão sólida do significado multifacetado de Karuna.

Também Dhammapala escreve:
Foi através da compreensão (= sabedoria) que ele compreendeu plenamente o sofrimento dos outros e através de karuna que ele se empenhou em contrariá-lo... Foi através da sabedoria que ele próprio fez a travessia e através de karuna que ele fez com que os outros a fizessem... Da mesma forma, foi através de karuna que ele se tornou o ajudante do mundo e através da sabedoria que ele se tornou o seu próprio ajudante.


E em várias referências de sutras encontramos passagens como:

"O Buda visitou e confortou os doentes 'por karuna' (Anguttara ikaya 3. 378), ele ensinou o Dhamma 'por karuna' (Anguttara Nikaya 3. 167). 


É óbvio que, no contexto budista, a palavra Karuna aponta para uma mente que se importa, que não é indiferente. Uma mente que não é indiferente ao que está a acontecer no campo conhecido da experiência. Outro aspeto importante que é frequentemente negligenciado é o facto de Karuna, no sentido budista, estar imbuído de sabedoria. Muitas vezes ouvimos as palavras "sabedoria e compaixão", ou a necessidade de cultivar "sabedoria e compaixão". No entanto, do ponto de vista budista, estes dois aspectos só são expressos separadamente como uma ferramenta pedagógica, porque na realidade, são inseparáveis desde o início. 

    O significado aqui é que se não houver sabedoria, então não há Karuna no sentido budista. Compaixão sem sabedoria não é a Karuna budista. Talvez este seja um ponto subtil que podemos descartar como sendo um pormenor linguístico, mas não é o caso; pensar na sabedoria e em karuna como "coisas" separadas que precisam de ser desenvolvidas é semelhante a pensar que o fogo e o calor são coisas diferentes, e que primeiro tenho de desenvolver o fogo e depois tenho de desenvolver o calor, quando na realidade o fogo e o calor surgem simultaneamente desde o início, são inseparáveis. Karuna e Sabedoria são sempre inseparáveis, falar deles como separados é apenas uma ferramenta pedagógica. Este ponto é suficientemente crucial para merecer algum destaque:

se não há sabedoria, então não há Karuna no sentido budista. Karuna sem sabedoria não é o Karuna budista.


O outro aspeto a distinguir é entre Karuna e Mahakaruna. Mahakaruna, que é o aroma, ou benefício espontâneo que surge de uma Mente de Buda, é o aspeto de atividade de Karuna, que é espontâneo e não discriminatório. Os praticantes do caminho não praticam mahakaruna, mas cultivam karuna.

Os problemas com a tradução como Compaixão

 Mas será que o significado e a compreensão geral da palavra compaixão  e na nossa cultura são adequados para uma compreensão budista de Karuna? Será que o uso da palavra compaixão em muitos dos círculos espirituais ocidentais que a associam ao Budismo é realmente correto do ponto de vista budista?

Se olharmos para a raiz da palavra compaixão, ela vem do latim e significa co-sofrimento, ou sofrimento em conjunto, ou uma paixão partilhada. Significa partilhar o sofrimento do outro. O primeiro problema com a tradução de karuna de uma forma que se relaciona com a experiência do sofrimento é que uma mente desperta, ou uma mente búdica, não experiencia  sofrimento e, no entanto, a mente desperta está imbuída de puro mahakaruna. Quanto ao simples Karuna (ou, como por vezes é referido, compaixão mundana), se o entendêssemos como o significado geral de compaixão (sofrimento-junto), estaria o Buda verdadeiramente a pedir aos seus discípulos que desenvolvessem ativamente uma mente "de sofrimento"? Parece pouco provável.

Na linguagem comum, e também no sentido budista, a compaixão tem assumido um tom muito "pesado". Talvez influenciados pelo nosso passado histórico e cultural cristão, com a imagem de Cristo a sofrer na cruz para salvar a humanidade, é fácil trazer esta ideia de compaixão para o nosso entendimento budista. 


Por outro lado, a compaixão está também muito relacionada com a "paixão", é um estado ardente, é emocional, reage ao sofrimento de uma forma emocional. Muitas vezes, a compaixão, enquanto estado interior, é misturada e confundida com a empatia, apesar de não serem, de facto, o mesmo estado. Outra questão comum abordada por alguns tradutores é que se tentarmos traduzir karuna como mera "empatia", isso parece ficar aquém do significado, por outro lado, "compaixão" vai demasiado longe e entra em áreas que não fazem parte do significado de karuna.

 Por outras palavras, se "empatia" é demasiado passivo e neutro, "compaixão" é demasiado ativo e emocional.


Em VIOLÊNCIA E COMPASSÃO, um diálogo entre o Dalai Lama e Jean-Claude Carriere, uma passagem do livro afirma que Karuna no Budismo, não é aquilo a que habitualmente na nossa cultura chamaríamos um "sentimento", ou seja, não é "baseado em sentimentos". Apesar de poderem surgir sentimentos e emoções numa pessoa ao observar outra em sofrimento, essa não é a base de "karuna". Karuna, no Budismo, é o que surge da sabedoria e da compreensão da condição atual da situação da vida e da forma como os seres vivem; mas também se une à compreensão de que estamos todos interligados. Este tipo de Karuna não é uma "paixão" ou uma "emoção", não tem a natureza ardente da compaixão comum.


Jennifer Goetz no seu estudo "Research on Buddhist Conceptions of Compassion: An Annotated Bibliography", oferece uma visão geral muito interessante de vários aspectos fundamentais que são aqui resumidos:


O entendimento e significado geral de compaixão é:

- um sentimento espontâneo, uma emoção
- é uma paixão, quente
- é dirigido a uma situação ou a um indivíduo
- é o resultado de carinho e preocupação, qualquer pessoa pode tê-la


O significado budista de Karuna:

- não é uma emoção, é o resultado da compreensão, da reflexão, da contemplação e da sabedoria
- não é quente (emocional), é calmo e refrescante
- não é individualizado
- o verdadeiro karuna é inseparável da sabedoria (prajna), caso contrário pode ser prejudicial


Se olharmos apenas para estas diferenças, é óbvio que o entendimento geral de "compaixão" e o significado de "karuna" têm diferenças bastante importantes.

De facto, muitos mestres que vieram ensinar no ocidente tentaram explorar e clarificar este problema, nomeadamente Chogyam Trungpa Rinpoche, que, no seu estilo único, cunhou o termo "compaixão idiota" para se referir ao entendimento ocidental comum de compaixão quando aplicado ao budismo:

A compaixão idiota é a ideia altamente conceptualizada de que se quer fazer o bem a alguém. Para que a tua compaixão não se transforme em compaixão idiota, tens de usar a tua inteligência. Nesta altura, o bem está puramente relacionado com o prazer. A compaixão idiota também deriva do facto de não se ter coragem suficiente para dizer não.

e também:

A compaixão não é necessariamente ser gentil e simpático; é mais abertura. É estar disposto a relacionar-se com todo o processo. Geralmente, a experiência da compaixão é a de alguém que é rico e está disposto a dar algo por causa da sua caridade. Isso é compaixão idiota. Essa compaixão é baseada em níveis: algo é melhor do que outra coisa. A ideia básica da compaixão é baseada  no principio da ausência de existência-intriseca, e não em comparações. (...) Quando se vê a falta de sentido de certa coisa, desiste-se das expectativas. Porque desistes das expectativas, tornas-te mais generoso. Portanto, está disposto a relacionar-se com o que existe sem expectativas. E, por causa dessa não-expetativa, fica mais equipado quando se relaciona com outras situações. Esse é o caminho da compaixão. 

 (Das coleção de obras de Chogyam Trungpa, Volume 2)


A partir desta breve exploração, talvez seja possível compreender a importância deste tópico para alguém que está a percorrer o caminho budista. Também deve ficar claro que a questão da palavra "compaixão" não deve ser tomada de ânimo leve. Alguns sugerem que não importa muito, desde que o significado budista da palavra seja explicado, mas não creio que seja assim tão simples. A mente concetual está profundamente ligada aos padrões linguísticos e, uma vez que uma determinada palavra entra na estrutura concetual interna e assume um lugar e um significado na visão do mundo, então a simples oferta de uma definição alternativa para uma palavra pouco faz para substituir as impressões profundamente enraizadas que estão na mente.


Algumas das questões óbvias são o facto de a compaixão, tal como é habitualmente entendida na nossa cultura ocidental, ser uma resposta emocional, estando imbuída de sofrimento. Também a palavra compaixão parece estar muitas vezes associada a "ação" e julgamento, como Chogyam Trungpa também menciona, a ideia de que algo é melhor e algo é pior; que alguém é melhor e alguém é pior. Esta dualidade de bom e mau não tem lugar em Karuna, muito menos em mahakaruna. O caminho de Buda não é um caminho de discriminação, julgamento e condenação. Se tomarmos o significado de compaixão neste sentido comum, ou como Trungpa Rinpoche diz, "compaixão idiota", ele está cheio de julgamento. Esta forma de compaixão pode facilmente produzir raiva, frustração, tristeza, desespero, medo, etc. A partir daqui, sentimos que queremos salvar o mundo, mas não temos sequer a sabedoria para nos compreendermos e salvar a nós próprios. Muitas vezes, o tipo de acções que surgem deste tipo de compaixão são acções confusas, fora do lugar e o resultado de uma mente e visão limitada. Como diz o velho ditado: "O inferno está cheio de pessoas com boas intenções".


Nesse sentido, talvez uma melhor tradução para Karuna fosse algo como: "bom coração". Neste sentido, significa que nos preocupamos, que não somos indiferentes ou insensíveis. Como Buddhaghosa escreveu na sua definição de Karuna: "Quando há sofrimento nos outros, o coração das pessoas boas comove-se". 

Se formos indiferentes ao sofrimento e à dor à nossa volta, estamos desligados, estamos de alguma forma fechados. Se estivermos fechados, então o único espaço em que nos movemos é o do nosso ego e da nossa mente conceptual. Não ser indiferente significa que prestamos atenção. Prestamos atenção ao que acontece. Estamos atentos ao facto de os seres sofrerem. Estar atento e ter bom coração, e desejar a felicidade, não é  o mesmo que ser capaz de ajudar, ou saber como ajudar. Por vezes podemos ajudar e sabemos como ajudar, outras vezes não sabemos - mas importamo-nos na mesma. Ao importarmo-nos, é Karuna, há uma sensação de calma, de compreensão - de sabedoria!

O outro problema é esta tendência para separar a sabedoria e karuna como aspectos separados e distintos. Isto não pode ser feito. Por vezes ouvimos alguém dizer: "Eu tenho muita compaixão, mas a minha sabedoria não é assim tão grande". Tais afirmações reflectem uma compreensão incorrecta de karuna, tal como explicado anteriormente, porque a sabedoria e karuna não podem ser verdadeiramente separadas. A sabedoria genuína, Prajna genuíno, é sempre inseparável de Karuna na mesma "quantidade". Se sentirmos que a nossa sabedoria é muito menor do que a nossa compaixão, então essa compaixão não é Karuna. Da mesma forma, Karuna está sempre a manifestar Sabedoria. A Sabedoria e a Compaixão, se quisermos usar estas duas palavras, são inseparáveis. Não é que os praticantes precisem, de alguma forma, de apanhar um pedaço de compaixão, apanhar um pedaço de sabedoria e depois misturá-los na sua mente. Esta é a razão pela qual o caminho pode ser abordado de ambos os lados.


Este artigo não tenta oferecer uma solução final, porque talvez não exista uma boa solução para isto. Alguns sugeriram que é melhor deixar algumas palavras sem tradução exatamente por esta razão, palavras como Vidya (tib. Rigpa), Karuna e várias outras são inerentemente difíceis de traduzir com precisão. No entanto, uma palavra como karuna, ou compaixão, considerando que se relaciona com um movimento interior profundo do coração e da mente, se ignorarmos a questão inerente da programação neurolinguística e tentarmos apenas redefinir a palavra, o seu verdadeiro significado ficará totalmente dentro do domínio conceptual, tornando-se muito difícil de ser realmente conduzido para o fundo do coração e da mente. Por isso, talvez seja melhor deixá-la sem tradução e insistir em explicações profundas sobre o tema.


Ensinar sobre compaixão tornou-se o fulcro, ou foco central, da maioria das formas de Budismo, em particular no Ocidente, atualmente. Considerando que Karuna é de facto um dos aspectos chave do caminho, é importante olhar realmente para este princípio. O uso comum da palavra compaixão no Ocidente levou a profundos mal-entendidos sobre a natureza do caminho budista, muitas vezes derivando para uma espécie de posição humanista utópica e ingénua, e posições e acções derivadas de apego e aversão justificadas sob a rubrica de compaixão. Esta posição afasta-se do significado profundo e vasto de Karuna, a incrível sabedoria e bondade da mente desperta para além do dualismo. No karuna autêntico de que falamos no Budismo, encontramos esta visão inerente de que, em última análise, não há um eu verdadeiramente existente, nem dualidade entre sujeito e objeto. Se perdermos este sentido e nos desviarmos para um tipo de compaixão baseado nas emoções, dualista, bom e mau, certo e errado, justiça e injustiça, estamos a ir na direção oposta. No sentido budista da palavra karuna, ela está profundamente relacionada com a libertação do auto-apego, não há nada mais importante do que isso. Com a compreensão da nossa verdadeira natureza e a libertação do auto-apego, automaticamente karuna, ou compaixão, surge como a manifestação natural da natureza mais fundamental so ser, para além do eu e do outro, para além da dualidade.  Na definição clássica de compaixão (karuna) no Budismo Mahayana, quando se discutem as quatro qualidades ilimitadas, a compaixão é definida como "o movimento interior que quer dissipar o sofrimento", e o amor é definido como "o movimento interior que quer promover a felicidade". No entanto, temos de nos lembrar muito claramente do significado de "sofrimento" e "felicidade" no contexto budista, e isto é algo que muitas vezes se perde, ou é abandonado, na migração das ideias budistas para certos movimentos ocidentais que tentam utilizar os princípios budistas, muitas vezes apropriando-se deles de forma incorrecta. 

Isto acontece quando se chama "budismo" a algo que não o é, mas também quando se utilizam muitas das suas ideias fundamentais, reenquadrando-as depois de acordo com a psicologia ocidental ou outras ideologias, criando muita confusão a leitores ou ouvintes insuspeitos. No contexto budista, tanto o sofrimento como a felicidade têm significados muito exatos, que estão no cerne do Dharma. Em resumo, o sofrimento está relacionado com a ignorância ou, por outras palavras, é definido pela Segunda Nobre Verdade, que diz que a causa do sofrimento é a ignorância da nossa verdadeira natureza. Assim, a compaixão é o desejo de libertar todos os seres (incluindo nós próprios) da ignorância da nossa verdadeira natureza. Para nos libertarmos da ilusão da dualidade, do nome e da forma. Se perdermos isto de vista, então já não é Karuna. Isto não quer dizer que a compaixão normal não seja importante, mas não a devemos misturar com termos budistas, porque os princípios budistas servem um objetivo muito específico no caminho para o despertar. E talvez no nosso mundo moderno, tão cheio de 'compaixão' activista, agressiva, cheia de julgamento, e até imposição - a compreensão de Karuna seja algo de grande importância.

O grande estado da sabedoria primordial é a grande compaixão, porque ela sabe como as coisas realmente são. Não é compaixão porque os seres vivos sofrem; é compaixão porque sabe que o seu sofrimento e o seu auto-apego são ilusórios, e que a sua condição autêntica é a Grande Perfeição. Saber que a verdadeira natureza de todos os seres e da realidade é a Grande-Perfeição, isso é Grande-Compaixão


Com Amor,
por Ajanatha