
A Base do Caminho Espiritual
Quando tentamos abordar ou reflectir sobre o caminho espiritual, ou acerca da dimensão espiritual da vida; ou mesmo quando queremos entrar e assumir um caminho espiritual pessoal necessitamos de uma fundação ou alicerces sólidos. Não importa qual o caminho espiritual que escolhemos, seja qual for, é necessário uma fundação interior adequada.
No caso particular do caminho de Atiyoga, Mahasandhi, falamos muito sobre a realização da natureza não-dual que está para além de esforço, que se encontra naturalmente para além de causas e condições e que é espontaneamente presente. Também explicamos que o estado de despertar é em si o estado natural da mente, sempre-presente, sempre-livre - é assim agora mesmo e não é dependente de construções ou desenvolvimentos. No entanto como a mente pessoal normal se encontra num estado nublado e de confusão, constantemente a perseguir atrás de projecções, julgando, pensando, totalmente sem reconhecer a sua própria natureza ultima - desta forma o estado natural desperto não é reconhecido. Quando abordamos o caminho para tentar descobrir a nossa verdadeira condição absoluta, temos de o fazer a partir do ponto onde nos encontramos, ou seja, a partir desta mente pessoal dualista. Então ao abordar o caminho devemos verificar se a nossa atitude é saudável e apropriada, para que a forma com que nos relacionamos com o caminho seja produtiva. Se a nossa mente pessoal está totalmente envolvida com preocupações egoístas e comportamentos destrutivos, então tentar abordar o caminho dessa posição é muito difícil, e muitos obstáculos vão aparecer.
Então para estabelecer uns alicerces bem firmes que suportam a mente nessa viagem de descoberta da verdadeira condição do ser primeiro devemos reflectir e assimilar os quatro pontos que viram a direcção da mente, e as quatro atitudes incomensuráveis.
Os quatro pontos que viram a direcção da mente e as quatro atitudes incomensuráveis são verdadeiramente a fundação, a base, a forma de preparar a mente e o coração para a viagem. São também os amigos e companheiros do praticante durante todo o caminho e nunca devem ser abandonados. Quando a realização da natureza da mente começa a despertar, estes pontos na realidade manifestam-se espontaneamente como aspectos da sabedoria da mente. O que é apresentado aqui é de importância fundamental para aspirantes e principiantes no caminho, mas também de grande importância para 'veteranos' para quem uma introspecção renovada e frequente destes pontos é crucial para evitar uma estagnação interior.
Os quatro pontos que viram a direcção da mente
Estes pontos viram direcção da mente, porque quando se reflecte profundamente sobre eles, a direcção da mente em relação á vida começa mudar. A mente normalmente está virada para fora, para o mundo, para obter coisas, para construir coisas, totalmente focada no mundo material e no mundo interno da pessoa como as suas emoções, medos e esperanças etc. Virar a direcção significa começar a olhar para a vida e para o mundo de uma forma diferente, olhar para a liberdade, para o despertar para a verdadeira condição do ser, como algo que é possível e importante.
O primeiro ponto é a reflexão sobre a impermanênci - Observamos e reflectimos, e ao fazer isso compreendemos que tudo no mundo e na vida é impermanente. Não encontramos uma única coisa neste mundo que seja fixa, permanente, duradoura. A situação de vida muda de momento para momento, de saúde para doença, e de doença para saúde. Boas condições mudam para más condições e vice-versa a qualquer momento de forma inesperada. A vida e o mundo estão em constante mudança, e tentar agarrar-se a seja o que for, seja a objectos, pessoas ou situação, é como tentar agarrar água entre os dedos da mão. A tendência de assumir que as coisas do mundo e situações como sendo duradouras e fixas, é um grande erro, e não corresponde á realidade. Devemos também reflectir claramente que no final, a nossa própria vida é impermanente, e que não sabemos de facto quando o nosso ultimo momento nesta vida vai chegar. Quanto tempo e energia vamos investir a tentar agarrar e construir coisas impermanentes ? Tudo o que construímos nesta vida de material, ou projectos, riqueza, negócios etc, é como construir castelos de areia na praia durante a maré baixa. Tentar planear o futuro é como jogar a rede de pesca para um lago seco. Com este entendimento, devemos relaxar um pouco, e ao mesmo tempo mudar a nossa perspectiva, mudar o nosso olhar na direcção de algo maior, investir em tentar descobrir a verdade sobre o que somos.
O segundo ponto, é o principio de causa e efeito, ou karma. Do ponto de vista do mundo aparente e relativo, tudo o que se manifesta neste universo, é o resultado de uma quantidade inconcebível de causas e condições. Cada vez que a pessoa age, faz seja o que for, baseado numa visão dualista e limitada, essa acção vai ser a causa de um resultado no futuro - isto nunca falha. Com este entendimento devemos assumir responsabilidade pelas nossas acções, pensamentos e palavras, e fundamentalmente, pela direcção da nossa vida.
O segundo ponto, é o principio de causa e efeito, ou karma. Do ponto de vista do mundo aparente e relativo, tudo o que se manifesta neste universo, é o resultado de uma quantidade inconcebível de causas e condições. Cada vez que a pessoa age, faz seja o que for, baseado numa visão dualista e limitada, essa acção vai ser a causa de um resultado no futuro - isto nunca falha. Com este entendimento devemos assumir responsabilidade pelas nossas acções, pensamentos e palavras, e fundamentalmente, pela direcção da nossa vida.
O terceiro ponto é que seja de que forma for que olhamos para a vida, e para os seres vivos, podemos observar que fundamentalmente não existe solução permanente para os problemas que afligem os seres vivos. Os seres humanos em particular estão sempre insatisfeitos. Sempre em busca de alguma coisa. E quando obtêm aquilo que queriam, imediatamente sentem que falta alguma outra coisa, ou sentem medo de perder o que obtiveram. Se trabalho muito para obter o que quero, tenho ansiedade, esperança de atingir o meu objectivo. Quando obtenho o que queria, agarro-me ao que obtive e tenho medo de o perder. Não existe paz nesta forma de viver, e todas as felicidades que aparecem quando se obtém o que se deseja, são efémeras, fugazes e de pouca duração. Os seres humanos, desde que nascem e se tornam conscientes de si, passam a vida em busca de coisas, e a mudar coisas de um sitio para o outro, sejam coisas materiais, ou experiências emocionais. Constantemente saltando de uma coisa para outra, sempre a manobrar entre o medo e a esperança. Não seria melhor investir alguma energia e tempo para obter algo que está para além destas limitações? Ser livre deste ciclo?
O quarto ponto é o reconhecimento da oportunidade rara e preciosa para descobrir a nossa natureza. Existem mais de 7 biliões de pessoas neste planeta, e inúmeros seres vivos no reino animal. De todos estes seres, quantos de facto têm sequer interesse e abertura para a dimensão espiritual da vida? E destes, quantos têm a oportunidade, possibilidade e condições de receber as instruções preciosas e raras que levam á descoberta da natureza ultima do ser nesta mesma vida? E quantos o fazem? Possuir todas as condições necessárias para aprender e fazer este caminho, e realizar a natureza fundamental do Ser, é algo de muito raro. É algo de verdadeiramente precioso. Ter essa possibilidade e desperdiça-la, não tomar proveito da oportunidade, com uma entrega e motivação total de coração e mente, é como jogar para o lixo uma montanha de comida, quando nós próprios e toda a gente á nossa volta está esfomeado. Por vezes é fácil entreter pensamentos como: "ah talvez um dia, agora estou muito ocupado, a vida é muito cheia", mas esta atitude um dia torna-se em arrependimento quando a velhice chega, ou a saúde já não permite, ou as condições mudam de tal forma que já não podemos fazer o caminho. E é quando finalmente deitados no leito final esperando a morte, quando tudo o resto que nos ocupou e espremeu a vida parece inútil, que percebemos que desperdiçamos a oportunidade mais preciosa que a vida nos deu e agora é tarde demais.
Se reflectimos profundamente usando estes 4 pontos como guias, inevitavelmente as nossas mentes vão gradualmente mudar de direcção e olhar para o caminho para a liberdade, e compaixão para todos os seres nasce naturalmente no coração.
As quatro atitudes incomensuráveis
Depois de termos reflectido nos quatro pontos explicados acima, e as nossas mentes começam a voltar-se para o caminho, devemos então olhar para nós próprios, e observar a nossa atitude, e tentar cultivar as quatro atitudes. As quatro atitudes são incomensuráveis porque na realidade não têm limites, e no final vão brilhar como sendo as realizações do caminho.
A primeira atitude a cultivar, é Grande Amor. Amor aqui tem um significado especifico, significa o sentimento que deseja que todos os seres sejam felizes. No entanto este desejo não é simplesmente um desejar de felicidade mundana ou bem-estar, é o desejo que todos os seres vivos descubram a felicidade imutável e inerente á realização da natureza ultima.
A segunda atitude é Grande Compaixão. Compaixão aqui significa que temos o desejo que todos os seres vivos se libertem de sofrimento. Aqui também não significa simplesmente sofrimentos mundanos como fome e dor, mas o sofrimento que permeia tudo, o sofrimento que resulta do descontentamento cronico que vem de viver numa visão dualista separada da verdadeira natureza do Ser.
A terceira atitude é Grande Alegria. Alegria é o que sentimos sempre que podemos fazer algo de positivo, virtuoso, e em particular a alegria de aplicar o caminho para a liberdade. É também um regozijar das qualidades positivas, acções positivas e virtude que observamos noutras pessoas. É um regozijar quando observamos alguém que vai meditar, ou aplicar o caminho para a liberdade.
A quarta atitude é Equanimidade. Equanimidade é o facto de que em relação ás três atitudes anteriores, amor, compaixão e alegria, não descriminamos em relação a amigo e inimigo, família ou desconhecidos. Cultivamos uma atitude incomensurável de amor, compaixão e alegria igualmente em relação a todos os seres, sem descriminar.
Os quatro pontos que mudam a direcção da mente, e as quatro atitudes incomensuráveis são a fundação, os alicerces do caminho espiritual. Se passamos algum tempo a examinar e cultivar estes aspectos, então sem duvida que o nosso coração e mente se vira para a direcção da liberdade; amor, compaixão e alegria crescem dentro de nós, e uma grande equanimidade permeia a nossa mente. Desta forma se nos aplicamos no caminho espiritual para a descoberta da nossa verdadeira natureza, temos uma base sólida, uma mente forte baseada numa motivação incrível, e o nosso caminho vai ir de forma positiva.
Embora a visão de Atiyoga seja totalmente para além da mente conceptual, de ideias e esforços, até que o estado do absoluto do Ser seja atingido, devemos ser como um rei que nunca sai do palácio sozinho. O Rei ao sair do palácio é sempre acompanhado de uma comitiva. Atiyoga é o Rei da visão do absoluto, os quatro pontos que viram a direcção da mente e as quatro atitudes incomensuráveis são a mais excelente das comitivas!
com amor
ajanatha das