Qual é o ponto principal dos ensinamentos do
Buda, do Dharma? O ponto essencial é simplesmente a descoberta do que
verdadeiramente somos. Uma outra forma de exprimir isto seria dizer que o
objectivo principal é a descoberta da verdadeira natureza do Ser. Descobrir a
verdadeira natureza do Ser é equivalente a descobrir a natureza de todos os
seres e da própria realidade. Não existe nada mais importante do que isto. Este
é o ponto essencial. Devemos entender isso e decidir sem vacilar que não existe
qualquer outro objectivo mais importante do que isto.
O caminho total e completo para a felicidade consiste na descoberta da verdadeira condição daquilo a que chamamos ‘Eu’. ‘Eu’ é a fonte da identidade pessoal, de ideias, desejos, esperanças e medos, raiva, ódio, inveja e de toda a confusão em geral. Porquê? Porque é este ‘Eu’ que aparentemente é aquilo que tem a experiência de nascer, sofrer, de viver e de morrer. O caminho para descobrir a verdadeira natureza deste ‘Eu’ pode ser resumido como sendo aquilo que está naturalmente presente sem ser uma ‘coisa’ ou ‘objecto’. Não sendo uma coisa, tudo aquilo que é não-coisa, ou não-objecto, aparece e manifesta-se num espaço de abertura límpido e claro. Esse espaço límpido e claro e os fenómenos aparentes, que são 'não-coisas', não são diferentes ou separadas. Tudo isto está presente sem esforço ou acção deliberada, é simples e espontâneo. O universo e todos os seres manifestam-se do grande espaço primordial, a condição básica da realidade; tudo aparece dessa base, mas no entanto nada se move para fora dela. Desta forma, o universo e todos os seres são o som desse espaço infinito e primordial, assim como música é inseparável do silencio onde se manifesta, é o movimento do silencio em si. Isto é grande amor, a inseparabilidade intrínseca da diversidade. Isto é grande sabedoria e o fim de todas as confusões e sofrimento.
O abandonar do apego-ao-Eu e fixação-a-aparências
é abandonar a raiz da ignorância. Da mesma forma, abandonar esperança e medo é
abandonar apego-ao-Eu; Nisto a condição natural é espontânea, não-nascida e sem
interrupção.
Fixação em pensamentos é fixar a mente em
‘coisas’; mas ‘coisas’ são "não-coisas", então se não fixamos nem em coisas nem em
não-coisas, não fixamos em nada, mas simplesmente a mente permanece aberta e
lúcida.
Este é o sol que dissolve a neblina da mente, e o sol brilha de novo
iluminando a condição natural da mente. Até que isto seja totalmente resolvido,
nunca se pode esquecer a função de Karma, acção-e-efeito.
Não temendo este mundo que se chama samsara,
nem perseguindo a miragem que se chama nirvana, o yogi voa livremente nos
ventos da compaixão para o beneficio de todos os seres. O silencio do Buda
mantém-se em perfeita claridade.
Shabkar escreveu: “Todos os Budas sem
excepção oferecem ensinamentos em grande quantidade, que são ilimitados como o
espaço e de uma profundidade difícil de penetrar. No entanto todos esses
ensinamentos têm um único propósito: a descoberta da nossa verdadeira natureza
da mente. Os Budas não têm nenhum outro objectivo ao dar ensinamentos a não ser
esse”
Suzuki escreveu: “Desejo repetir que, o
Budismo como religião não tem interesse abstracto em lógica, psicologia ou
metafísica (…) o problema principal é atingir um estado de realização pessoal
que é a essência própria do estado de Buda”
O estado concreto da condição autêntica do Ser é em si totalmente livre, primordialmente puro e sem limitações, a manifestação de compaixão autêntica. Neste caminho existe sempre o aspecto que reconhece a condição inerente a este mundo, e nesse sentido a vida encontra uma harmonia com o meio ambiente e todos os seres que nos rodeiam - mais do que isso, o cultivar dessa harmonia com tudo o que nos rodeia é em si o cultivar deste caminho, pois nesta condição de presença clara e lúcida harmonia manifesta-se espontaneamente.
com Amor
Ajanatha